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domingo, 11 de outubro de 2015

Notas de Autor 5

Transcrição da minha participação no programa radiofónico "Notas de Autor", na TSF, emissão do dia 1 de Outubro:
 
 
Sempre fui um crítico opositor do pensamento por compartimentos estanques. Por isso, na nota de hoje quero recomendar uma obra, acabadinha de chegar aos escaparates das livrarias, e que é exemplo da negação dessa persistente tendência para a arrumação em compartimentos estanques. Continua a imperar a ideia de que ciência e emoções se excluem mutuamente, e que o romantismo, enquanto movimento cultural enaltecedor do ideal de subjectividade, é coisa absolutamente contrária, oposta, à Ciência, à objectividade científica. Ora, a obra que vos quero recomendar, da autoria de Richard Holmes, premiada pela Royal Society, e intitulada “A Era do Deslumbramento”, parte da noção de espanto para demonstrar a existência (e cito) de «uma ciência romântica, do mesmo modo que existe uma poesia romântica». Numa prosa atraente, o autor faz uma espécie de romance biográfico da ciência realizada entre a chegada do botânico Joseph Banks ao Taiti, em 1769 (integrado na expedição de James Cook), e a célebre viagem de Darwin a bordo do Beagle, iniciada em 1831. No centro da narrativa está também a sedutora figura do músico astrónomo William (ou Wilhelm) Herschel, bem como as primeiras experiências de voo, com balões (o balonismo, os “globos aéreos”, como então se dizia).

Felicito a Gradiva por mais esta feliz iniciativa editorial que é também um gesto corajoso, dado não ser fácil em tempos de crise lançar no acanhado mercado português uma obra com cerca de 700 páginas e bastante iconografia.

Como o trabalho científico de William Herschel inspirou o compositor Joseph Haydn, deixo-vos ao som da oratória “A Criação” (Die Schöpfung). Sugestão musical para acompanhar a leitura proposta.
[TSF, 1 de Outubro de 2015]

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