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segunda-feira, 31 de outubro de 2016

TMIE


SOBRE A ÓPERA

“TMIE”

de

Carlos Alberto Augusto

 

Sendo o fenómeno ópera uma reunião de todas as Artes, é, a meu ver, sob a égide de uma única delas, a dos sons, que esse encontro se estrutura. Mas no imediato TMIE parece querer recusar ou até negar esse primado. TMIE funciona como catalisador pedagógico, despertando curiosidade/interesse no espectador receptor e levando-o à exploração cognitiva de domínios extramusicais: o da medicina, o da fisiologia, o da astronomia, o da história da ciência, o da filosofia. Nesse gesto de condução, a arte dos sons parece ir sendo secundarizada. No entanto, a sonância nunca deixa de estar presente, sendo uma espécie de personagem ubíqua, ressurgindo continuamente, ora como sonoridade fisiológica (o gene, a recuperação da faculdade auditiva de Beverly Biderman e o seu particular ouvir), ora como enunciação da harmonia interestelar (nas observações científicas de Henrietta Leavitt), ou ainda como expressão canora do ideário do filósofo pré-socrático (mas também fisiologista) Empédocles sobre o sentido da audição. Uma récita de TMIE convida à pesquisa. É assim, na sua genuína dimensão artística, um singular instrumento pedagógico.

João Maria de Freitas-Branco

Lisboa, 24 de Outubro de 2016

 

 

domingo, 2 de outubro de 2016

Forte de Peniche -- Memória ameaçada?

Como é do conhecimento público, o Governo decidiu concessionar o Forte de Peniche – espaço histórico da repressão do Estado Novo, bem como da resistência a essa ditadura fascista – a entidades privadas, tendo em vista a realização de investimentos para fins turísticos. A decisão tem vindo a suscitar polémica. Quem se opõe, argumenta que o projecto turístico pode «pôr em causa a preservação deste símbolo sinistro da repressão fascista», o que constituiria um desrespeito «pela memória de todos aqueles (mais de 2500 pessoas) que sacrificaram o melhor das suas vidas para que o povo vivesse em liberdade» (comunicado da URAP no seguimento de anterior comunicado oficial do PCP). Integro um grupo de cidadãos que assumiu posição pública sobre a decisão governamental e em defesa da Memória. Para além do que está dito nesse outro texto por mim subscrito, quero aqui declarar, a título mais pessoal, que a proposta apresentada pela Câmara Municipal de Peniche se me afigura muito razoável, uma vez que só aceita a concessão se esta medida concorrer para manter em funcionamento o espaço museológico e para a consequente preservação da Memória. Uma boa solução em face das conhecidas limitações orçamentais do Estado que têm permitido a contínua degradação da Fortaleza. No dizer do autarca comunista António José Correia (presidente da Câmara) o projecto do município admite apenas a reutilização de uma parte do espaço e conta com a valiosa participação do arquitecto Siza Vieira. Assim sendo, penso que instituições dedicadas à defesa da memória, como o NAM (de que sou vice-presidente) e a URAP deviam associar-se no esforço de colaboração efectiva com a autarquia de modo a levar à prática o que parece ser a melhor solução imediata favorecedora do combate à desmemória do Estado Novo que tem vindo a ser cultivada, numa tentativa organizada de promover uma revisão da História, revisão não cientificamente fundamentada, senão que baseada em opiniões ideológicas veiculadas pela comunicação social, pelas redes sociais ou por outros meios. A Memória é uma arma, um antídoto contra essa acção de desculpabilização, de embelezamento, de esbatimento da nocividade, de constante branquejar da ditadura salazarenta/fascista. Instituições como o NAM são por isso ainda mais úteis hoje, neste nosso ameaçador presente.

Em todas as gerações é indispensável saber aprender com a História, porque o conhecimento e a compreensão do passado é indispensável condição para que sejamos capazes de compreender o que se passa à nossa volta no aqui e agora.
João Maria de Freitas-Branco
Caxias, 2 de Outubro de 2016

sexta-feira, 30 de setembro de 2016

MIRÓ, FINALMENTE EXPOSTO


Quando, recentemente, Portugal foi vitimado por uma política governamental de impudico desprezo pela Cultura, conduzida pela coligação PSD/CDS-PP, assumi pública posição de indignação face à tentativa de alienar a preciosa colecção Miró, gesto bem demonstrativo de como o coração dos tristes governantes da anterior legislatura estava inclinado para o lucro financeiro, o do vil metal, e não para o lucro artístico, bem mais excelente. A decisão política de vender foi nítido símbolo de um descarado menosprezo por esse bem essencial para o progresso civilizacional que é a Cultura. Por isso, o dia de hoje, este 30 de Setembro, é para mim uma jornada com sabor especial, por me trazer a felicidade de ver finalmente posta ao serviço do enriquecimento dos cidadãos a rara e artisticamente valiosíssima colecção de pinturas do grande artista catalão Joan Miró. Será inaugurada dentro de poucas horas no Museu de Serralves. Aguarda-se também que o presidente da Câmara Municipal do Porto, Rui Moreira, anuncie durante a tarde de hoje qual o locar que irá albergar a preciosa colecção, para que assim possa ficar exposta ao público em permanência. A cidade do Porto e os seus autarcas estão de parabéns.

Contrariando a minha vontade, não vou poder estar presente na inauguração; mas já me apresso a preparar uma deslocação à Invicta para poder fruir toda essa esplêndida arte do meu tão amado Miró.

Lamento apenas que nos nossos canais televisivos os repórteres destacados para a cobertura da inauguração da exposição acentuem o valor comercial dos quadros e não o seu inestimável valor artístico. Será que ainda estão infectados pelo vírus do desprezo pela Cultura trazido pelo anterior governo?

João Maria de Freitas-Branco
Sexta-feira, 30/09/16, às 14h50.

quinta-feira, 12 de maio de 2016

Oportunidade para uma lição


 

É sabido que uma evidência não é absoluta garantia de extinção da polémica. Disso nos dá prova a ruidosa discussão a que se tem assistido em torno das escolas privadas e dos chamados contratos de associação.

Que o Estado tem a obrigação de formar, manter e assegurar o competente funcionamento de uma rede escolar pública de modo a garantir uma educação base acessível a todos, ou seja, gratuita e universal, é uma evidência em qualquer país moderno, democrático, civilizacionalmente desenvolvido. No nosso caso até está consignado na Constituição da República. Evidente é também a obrigação estatal de garantir o direito de existência do ensino privado, sob variadas formas (cooperativas, colégios particulares, escolas tuteladas por instituições religiosas, etc.). Essa escola privada concorrerá lealmente com o sector público procurando conquistar alunos para os respectivos estabelecimentos de ensino, mediante a oferta de propostas/projectos pedagógicos aliciantes. Não menos evidente é a ilegitimidade e a injustiça de o Estado financiar uma pequena percentagem de escolas privadas em regiões em que o próprio Estado assegura, com o dinheiro de todos nós, uma oferta que satisfaz por completo as necessidades locais, garantindo o acesso universal e gratuito à educação básica. Se na ausência de situações de excepção (carência de oferta) o Estado optasse por continuar a financiar, com o nosso dinheiro, um conjunto minoritário de escolas privadas, estaria desde logo a incorrer numa descabelada injustiça relativamente à imensa maioria dos estabelecimentos de ensino privado (dois mil setecentos e setenta e três, segundo os dados oficialmente divulgados, que não recebem nenhum financiamento público). Teria esta maioria (97%) todas as razões para vir manifestar-se ruidosamente contra o Governo, por indecente favorecimento de uns poucos – sendo talvez instrutivo saber quem são eles, esses menos de 3% de colégios privados. E também nós, cidadãos contribuintes, deveríamos protestar com igual veemência por utilização abusiva, ilegítima e danosa do nosso dinheiro.

É evidentemente uma boa notícia para os cidadãos contribuintes saber que se reduziu de modo significativo a necessidade de recurso a turmas complementares criadas no sector privado, por efeito da conjugação das alterações demográficas com o efectivo aumento da rede de ensino público.  

Perante este conjunto de cristalinas evidências parece dever-se concluir que todo o alarido em torno da questão, que todas as discussões, debates políticos (parlamentares e não parlamentares), quezílias, etc., mais não são do que pura inutilidade e perda de tempo. Parece mas não é. Porquê? Porque esta questão oferece óptima oportunidade de fruirmos uma esplêndida lição sobre o que é ser de direita (da direita radical que governou durante os últimos anos) e o que é ser de esquerda.

Ser dessa direita de Passos Coelho e Nuno Crato é favorecer os interesses privados pondo o Estado, a riqueza pública criada pelo trabalho da generalidade dos cidadãos, ao serviço desses interesses. É fazer com que o Estado fique refém do interesse de minorias constitutivas do poderio. Essa opção político-ideológica esteve bem patente no Ministério da Educação dirigido por Nuno Crato. É exemplo paradigmático de uma gestão das finanças públicas favorecedora da degradação dos serviços públicos (neste caso, do ensino público) de forma a criar mercado para o privado, para as empresas, firmas, escolas, do sector privado. É a imoral apropriação dos dinheiros públicos, o nosso dinheiro, para os colocar na mão de privados que pertencem à mesma irmandade desses governantes. Estes exercem a governação com o essencial propósito de manter um certo poderio.

O que parecia inútil é na verdade muito útil para a educação cívica dos portugueses. Fica dada uma boa lição e com ela só não aprenderá quem não quiser.

João Maria de Freitas-Branco
12 de Maio de 2016

 

 

 

 

 

 

 

terça-feira, 5 de abril de 2016

Derrame de indignidade


Ao longo dos últimos dias a nossa comunicação social esteve inundada de notícias sobre um congresso partidário. O que se viu e ouviu foi confrangedor pelo grau de mediocridade exibido. Um tipo de contribuição, lamentavelmente já banalizada, para o descrédito da política e da forma organizativa institucional denominada partido político. Mas porventura pior ainda foi o que não se viu nem ouviu: o vazio, a total ausência de gesto crítico, de manifesta indignação, o ensurdecedor silêncio dos congressistas perante o intolerável facto de existirem presos políticos em Angola e de o partido reunido em congresso não ter condenado na Assembleia da República, como é dever de qualquer autêntico democrata, o inadmissível e vergonhoso acto punitivo praticado em Luanda por uma justiça partidariamente instrumentalizada. Triste que, mesmo sem congresso, essa mesma indigna inexistência de inequívoca condenação se tivesse podido observar também do lado esquerdo do nosso Parlamento, no seio da família partidária historicamente mais vitimada pela indignidade do acto da detenção política. Incomodativo paradoxo.

Se a estas indignas ausências de protesto democrático em defesa da Liberdade, da Justiça e do progresso civilizacional adicionarmos o arrepiante caso Panama Papers que o EXPRESSO, na sua edição online, tem vindo a revelar nas últimas horas, ficamos com visão bem mais nítida sobre os riscos que corremos e sobre o para onde está a resvalar o nosso mundo.

João Maria de Freitas-Branco
Caxias, 4 de Abril de 2016

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

Deslumbrante e maravilhosamente Belo


DESLUMBRANTE
E
MARAVILHOSAMENTE BELO

 

Haverá na língua de Camões, ou em qualquer outra, adjectivação suficientemente expressiva para se adequar ao acontecimento que inscreve este dia 11 de Fevereiro de 2016 na história da ciência? Talvez não haja. Na dúvida, para titular o que agora aqui escrevo, arrisquei o uso do adjectivo “deslumbrante” acrescido de outra forma adjectivante adverbialmente realçada.

No momento em que festejamos o centenário da Relatividade geral não podia haver melhor presente de aniversário nem superior forma de homenagem do que a notícia acabada de ser anunciada ao mundo pelo Laser Interferometer Gravitational-Wave Observatory, uma colaboração científica internacional mais conhecida pela sigla LIGO. «Conseguimos!!» Foi com esta triunfante exclamativa ,bem temperada com rasgados sorrisos que o cientista David Reitze, do Caltech, deu a conhecer ao mundo que tinham sido detectadas pela primeira vez as ondas gravitacionais que há cem anos Albert Einstein afirmara existirem, mas que até agora nunca tinham sido observadas, fazendo com que a teorização einsteiniana permanecesse carenciada de prova experimental.  

Um cidadão anónimo desabafava há instantes no site de um órgão de comunicação social dizendo mais ou menos isto: se nem uma notícia como esta afasta os comentários idiotas, acho que não existe esperança para a nossa espécie. Compreendo a angústia perante a indigência intelectual da habitual chuva de comentos nos sites dos jornais, nas redes sociais ou pelas ruas e praças das nossas urbes. É facto notório estar a nossa existência quotidiana repleta de manifestações dessa indigência, e escasso tempo antes de receber a extraordinária notícia suportei eu próprio a estupidez, a tacanhez, a imbecilidade exibidas por um sujeito sentado bem diante de mim durante fastidiosa reunião de trabalho. Mas mesmo assim não consigo concordar com o pessimismo expresso pelo anónimo cidadão que citei. Pode ser excesso de optimismo da minha parte, mas é a própria notícia que o inspira, que o promove. Vejamos: não foi mente humana a que teorizou as ondas gravitacionais agora detectadas? Não é isso algo de absolutamente extraordinário? Como pôde um ser humano, na solidão do seu gabinete de trabalho, diante de umas folhas de papel, com uma simples caneta na mão, sem possuir nenhum dado empírico que sugerisse a hipótese do fenómeno e sem qualquer outro tipo de indícios, como pôde esse ser humano, fazendo uso das suas capacidades mentais chegar a conclusão científica tão sumptuosa, tão esplêndida e tão bela? Bela não apenas na descrição visionária mas também no seu rígido enunciado matemático. Como é isso possível? Como é possível uma tão assombrosa realização mental?

 Podemos, em rigor, ainda não saber o “como”. Contornamos a dificuldade socorrendo-nos amiúde de termos pouco precisos, de difícil definição, como sejam “génio”, “genialidade”, “talento”. Porém, acabámos de saber que foi possível. É deslumbrante! E bem real! Um ser humano, invulgar, muitíssimo singular, é certo, mas ainda assim humano (até prova em contrário), logrou construir uma visão teórica, conseguiu, no mais puro espaço da abstracção imaginativa racional, arquitectar a teorização de umas ondas gravitacionais que agora, decorrida toda uma centúria, pudemos finalmente observar no universo físico.

O mais abstracto discurso era afinal o mais real. Espantoso paradoxo: quanto mais se afastava da realidade empírica, mais o bom Albert se aproximava da compreensão da realidade física, da verdade do real. Aproximava-se afastando-se. Devia isto servir de definitiva lição para todos aqueles que perseveram na imbecilidade da desconsideração pelo esforço teorético, pelo valor da criação teorizadora.

Perante a evidência experimental hoje anunciada, demonstrativa de que a mente do homo sapiens Albert Einstein, bem como a inteligência e a imaginação que dela generosamente brotavam, foi capaz de tão grande feito, parece-me difícil não experimentar algum optimismo e não depositar alguma esperança na nossa espécie – pelo menos em alguns dos seres que a compõem.

Mas há mais. Mais alimento para essa confiança na mente humana e na inteligência que ela pode transportar. É que o agora noticiado é fruto de um admirável e pasmoso trabalho científico-tecnológico colectivo que permitiu à civilização humana dispor a partir deste momento dos meios técnicos que permitem detectar uma deformação do espaço-tempo com a dimensão de um milésimo do diâmetro de um protão! Foi o homo sapiens que concebeu e construiu os instrumentos hipersofisticados capazes de observar o que parecia ser inobservável. Note-se ainda que essa incrivelmente ténue deformação é o efeito de um acontecimento (a junção de dois buracos negros) que ocorreu a uma distância imensa de nós, num longínquo ponto do universo, há um bilião de anos, ou seja, muito tempo antes da origem da nossa espécie.

Foi a reunião deste incrível aparato tecnológico com as admiráveis equações de Einstein, com toda a sua dimensão filosófica e estética, que permitiu a histórica observação experimental acabada de anunciar. Portentosa notícia!

Enche-me de alegria o facto de este acontecimento ter ocorrido durante o meu tempo de vida e espero que o despretensioso escritinho que agora aqui vos deixo possa concorrer para que outros fruam com mais intensidade este histórico êxito científico inaugurador de uma nova Astronomia. 

João Maria de Freitas-Branco
Caxias, 11 de Fevereiro de 2016
 
NOTA: Será em breve publicado na revista VÉRTICE, no âmbito das comemorações do centenário, um texto de minha autoria sobre a relatividade geral, intitulado “Obra Oceano – A relatividade geral como expressão da concepção materialista do mundo”.

 

quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

CONTRA A CALÚNIA

Pela primeira vez na história da nossa 2ª República surgiu na cena política um candidato presidencial potencialmente vencedor que nunca teve filiação partidária, que não ocupou cargos políticos e que, por isso mesmo, vem de fora do sistema, expurgado de qualquer tipo de dependência relativamente à rede de interesses clientelares (político-partidários, corporativos, económicos, financeiros e outros). Até aqui pensava-se ser impossível alguém com semelhante perfil poder ter grande possibilidade de vencer a corrida eleitoral, tornando-se presidente da República. A candidatura de Sampaio da Nóvoa veio criar essa possibilidade. Isso, por si só, já lhe confere uma vitória: a valorização da cidadania. Mas esta novidade incomoda os mentores da rede de interesses e seus usufrutuários. E tal gente, quando vê ameaçadas as suas inconfessáveis negociatas não hesita em fazer uso do golpe baixo, recorrendo à calúnia, tão certeiramente definida por Dom Basílio, personagem da comédia Le Barbier de Séville de Pierre-Augustin Caron de Beaumarchais, como algo que, embora não tendo fundamento, vai crescendo, crescendo, crescendo até que acaba por cristalizar como “verdade” na mente de muitos incautos cidadãos. Rossini deu genial expressão musical ao fenómeno numa célebre ária do seu popular Barbeiro. E nós, em vésperas de eleição presidencial, pudemos presenciar despudorado exemplo de calúnia jornalística.

O matutino Correio da Manhã resolveu injectar veneno na candidatura de Sampaio da Nóvoa, por ser ela a tal que incomoda. Fê-lo através da cumplicidade com a calúnia já antes semeada por uma outra candidatura que, vazia de conteúdo e condenada a um resultado eleitoral abaixo dos 0,2%, está no terreno apenas para favorecer candidata amiga do caluniador.

Numa sociedade livre os idiotas provincianos têm direito à opinião, como qualquer outro cidadão, e um fulano pode querer cair no ridículo de dizer que tem competência superior à das conceituadas universidades de Oxford ou de Columbia para validar as competências académicas do ex-reitor da principal universidade da nossa pátria. O que não é suportável nem admissível é que esse idiotismo ridículo e saloio seja promovido pela comunicação social, violentando e desprestigiando uma coisa chamada jornalismo – coisa indispensável à boa saúde da democracia.

Nunca pensei ir perder tempo com acusação tão ridícula, mas o espantoso grau de má-fé patenteado pelo “jornalismo” do Correio da Manhã, dando eco, três dias antes das eleições, a uma reles acusação caluniosa proferida por um pacóvio contra o candidato Sampaio da Nóvoa é já coisa merecedora de veemente reacção denunciadora. Pelo menos, por parte de quem, como eu, assimilou a lição do Beaumarchais e sabe bem que a calúnia, após a semeadura, tem efeitos incontroláveis. Os senhores do Correio da Manhã também sabem. Por isso a usaram como arma política contra a candidatura para um novo tempo; tempo inimigo da rede de interesses clientelares instalados. Nenhum eventual desmentido apaga a indecência da notícia falsa e caluniosa hoje publicada, pelo que deve o cidadão eleitor que seja pessoa de bem elevar a voz e lançar grito de denúncia. A isso me dediquei aqui e agora.

João Maria de Freitas-Branco
Caxias, 20 de Janeiro de 2016

Originalmente publicado no blog PARA UM NOVO TEMPO (snap2016.blogspot.com)

domingo, 17 de janeiro de 2016

Apoio silenciado

A chegada ao poder de uma nova geração de políticos de direita pouco amigos da democracia, casta portadora de uma ideologia imoral, denominada austeritarismo, e derivada da consolidação, a partir da queda do Muro de Berlim, da corrente de pensamento neoliberal no domínio da economia política, tem vindo a provocar saudáveis reacções enriquecedoras da vida política. Isso tem tornado cada vez mais interessante este tempo actual, este nosso aqui e agora.

A candidatura de António Sampaio da Nóvoa é disso expressão maior, sendo portadora de sinais de esperança que vão ocupando o espaço onde antes se tinha instalado o medo, o desânimo, a resignação, a apatia – ingredientes favoráveis ao adormecimento do cidadão praticante. Mas a candidatura vai mais além: ela é cativante também pela sua já revelada capacidade de engendrar acontecimentos inesperados de nítida proficuidade para o saneamento e elevação da actividade política no interior da sociedade portuguesa. Deviam esses casos constituir notícia. Só que nem todas as notícias são convenientes para quem detém o controlo dos principais órgãos de comunicação social. Algumas são mesmo bastante inconvenientes. Tal é o caso da que aqui desejo trazer à atenção e que me tem indisposto ver permanecer ignorada.

Ei-la aqui: a nossa 2ª República é fruto de admirável gesto libertador protagonizado por uma singular elite de militares que integravam um exército colonial fascista. Coisa extraordinária, no plano mundial, e, a meu ver, ainda não devidamente enaltecida pelos historiadores, de cá ou de outras paragens. No abnegado esforço de construção da nova República democrática esses generosos militares de Abril desuniram-se e conflituaram por efeito dos diferentes modos de conceber a democracia. Sim, porque há várias democracias. Uma diversidade que o discurso comum tende a ocultar, também por conveniência ideológica. Há democracias que enfatizam a liberdade política ou negativa, há as que valorizam mais a liberdade social, há as que apostam em ambas, sendo que a democracia, tal como a liberdade que lhe está umbilicalmente associada, pode determinar-se no domínio de diferentes modos de produção. O conflito de visões do mundo era por isso (e não só por isso) uma espécie de inevitabilidade histórica. No entanto, mesmo nos momentos de mais aguda desavença ideológica tiveram esses heróicos militares revolucionários a digníssima atitude de nunca se desrespeitarem mutuamente. Sou disso testemunha. Razão acrescida para a enorme consideração que nutro por esses homens, alguns dos quais tiveram (os já perecidos) e têm a acrescida generosidade de serem meus amigos, coisa que muito me honra.

Muito embora mantendo esse genuíno e sincero respeito mútuo, os militares de Abril mantiveram depois do PREC e do 25 de Novembro de 1975 posições politicamente diferenciadas, divergentes e até, em alguns casos, opostas.

Passaram quatro décadas. Chega então mais um mês de Abril, o do ano acabado de findar, em que o cidadão António Nóvoa, distinto académico e ex-reitor da Universidade de Lisboa, decide candidatar-se ao cargo de Presidente da República. Não para ser o supremo magistrado da Nação, senão que para ser o primeiro servidor da res publica, em total harmonia com o melhor e mais puro espírito republicano. Uma candidatura de novo tipo, ditada pelas urgências do presente. O nosso António Nóvoa passa a ser conhecido como Sampaio da Nóvoa, candidato cidadão que quer, com o apoio da maioria dos portugueses, livremente expresso nas urnas, tornar-se o primeiro presidente cidadão desta República – por ser o primeiro sem dependências político-partidárias.

Repentinamente, nesse Abril de 2015 começa a verificar-se uma convergência inaudita desde 1975 entre os capitães da liberdade. Facto novo! Semeado pela candidatura. Novidade muito bem-vinda! Os militares de Abril reaproximam-se politicamente em torno da iniciativa de Sampaio da Nóvoa. A única excepção que conheço confirma a regra, observada no terreno da campanha eleitoral em curso e corroborada por informação pessoal recolhida junto da Associação 25 de Abril. Pela primeira vez após o 25 de Novembro os arquitectos militares da Liberdade unem-se para travarem, outra vez em conjunto, uma batalha política eleitoral em defesa das mesmas grandes causas de 1974, bem como de algumas outras trazidas pelos tempos menos recuados.

Se não erro, trata-se de acontecimento com relevância histórica. Algo que devia estar a ser amplamente noticiado, sendo também merecedor da melhor atenção dos comentadores políticos, dos politólogos, dos analistas sociais. Por que será então que esta ocorrência não é notícia? Qual a razão do silêncio? Que motivará a indiferença dos comentadores de serviço perante tão significativa convergência política?

Quero alimentar a esperança de que este pequeno escrito possa concorrer para pôr em evidência a atitude, trazendo para os espaços noticiosos de referência, bem como para a ribalta do comentário político esta ocorrência muito indicativa: os militares de Abril voltam a estar unidos numa batalha política; os militares da Liberdade apoiam Sampaio da Nóvoa.

João Maria de Freitas-Branco
Caxias, 16 de Janeiro de 2016
Originalmente publicado no blog PARA UM NOVO TEMPO snap2016.blogspot.com

 

quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

DEBATE - Eleições presidenciais


O debate presidencial que acabou de ter lugar na SIC-N, entre Marcelo Rebelo de Sousa e Sampaio da Nóvoa teve pelo menos uma grande virtude: deixou bem clara a diferença entre as duas candidaturas e os dois candidatos; de um lado a CONTINUIDADE, do outro a MUDANÇA. Eu sou inequivocamente pela mudança. Votarei Sampaio da Nóvoa no próximo dia 24. Por uma política nova, por um tempo novo, o tempo da livre cidadania.
Caxias, 7 de Janeiro de 2016