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quarta-feira, 19 de abril de 2017

Dona Sabina - Homenagem


Ontem, dia 11 de Abril de 2017, ao início da manhã, faleceu a Dona Sabina – assim era tratada por muitas gerações de alunos e professores do Liceu de Oeiras, onde trabalhou durante várias décadas como contínua, sempre muitíssimo estimada pelos jovens alunos, bem como pelos docentes e pelos seus colegas de trabalho. Conheci-a em meados dos anos 60, quando com o seu único filho, o Rui, entrei para o Liceu, iniciando assim uma relação de amizade estendida por mais de meio século de vida.

Quando se fala da história de um estabelecimento de ensino como o Liceu evocam-se, invariável e compreensivelmente, os bons professores que aí leccionaram; mas olvida-se de forma sistemática a acção pedagógica, formativa, desenvolvida por pessoas como a Dona Sabina – Sabina Marques Capão Andrade, de seu nome completo. No contacto diário com os alunos, sempre alimentando uma relação de grande proximidade com esses jovens, desempenhou ela relevante função educativa, não raramente temperada de genuíno espírito maternal. Legado porventura bem mais enriquecedor do que o de muitos docentes, mas injustamente deixado na penumbra da memória até por aqueles que profissionalmente se têm dedicado à investigação historiográfica na esfera da educação em Portugal.

Conversar com pessoas que estimava era um dos seus maiores prazeres. E para nós era o contentamento de poder saborear o seu constante sentido de humor, a sua lucidez, a sua ironia mordaz durante as longas cavaqueiras em que nunca se cansava. Manteve estas capacidades até o dia de ontem. O seu último. Estar na boa companhia desta nonagenária era receber uma injecção de amor à Vida. Também por isso, já neste dia em que nos despedimos da Dona Sabina sinto fortes saudades.

Pouco tempo antes de morrer, numa dessas estimadas conversas, disse: «Se não fosse este cansaço nas pernas, que faz com que me custe andar, ia à manifestação do 25 de Abril! É o que me apetece!»

Por tudo isto e muito mais, ficará sempre nas minhas melhores memórias de vida.

João Maria de Freitas-Branco
Caxias, 12 de Abril de 2017